Em setembro de
1964, eu tinha 13 anos e acompanhava meu pai, o poeta Hermes Vieira (in
memoriam),até a sede do DNERu( Departamento Nacional de Endemias Rurais, em
Teresina -PI), Repartição pública onde ele trabalhava. Uma parada na condução,
outra ali, logo chegávamos ao coração da Cidade Verde. Descemos na Praça Pedro
Segundo, logradouro de comunhão da população, por se localizar o famoso
Theatro 4 de Setembro, além do Cine Rex e do Bar Carnaúba, onde intelectuais
buscavam subsídios para a crônica da cidade. Do lado nascente, a sede do
Quartel da Polícia Militar estava tomada por tropas do exército. Seguimos na
Avenida Antonino Freire. Logo nos aproximamos do Palácio Karnak, sede do
governo do Estado, também sob guarnição do exército. À frente, avistamos a
igreja de São Benedito, localizada na Avenida Frei Serafim. No alto da torre,
um canhão apontava para a Praça Pedro Segundo. Meu pai falou baixo:“A coisa vai
longe!” Eu calado, observava a igreja
fechada e o canhão ocupando o lugar dos sinos. Somente a cruz permanecia
solitária, como em protesto àquele ato anticristão. Depois deste passeio
histórico, em casa comecei a rabiscar num caderno, as ideias. Escrever um verso
em protesto àquele Movimento Revolucionário, era o que eu queria. Uma rima
ruim, outra pior, mas não perdia o forte das ideias. Estava determinado pelo
sentimento de patriota, que manifesta seu pensamento, afinal era estudante do
Colégio Domício Magalhães, que incentivava a cultura, no sentido de descobrir
novos talentos. Continuei escrevendo, quando achava que tudo ia indo bem, eu
mostrava ao meu pai, que lia e exclamava: está melhorando. Eu não ligava,
puxava pela mente, ainda não tinha o domínio poético, rimava esporadicamente algumas
coisas sem significância, porém meu pai incentivava-me e isso me enchia de
orgulho. Era um aprendizado, afinal de contas, gostaria de apresentar à
professora Mariquinha, que sempre lia poesias na sala de aula. Pronto, eu dizia
a meu pai: - veja se este está bom! Eu, com o lápis na mão, esperava o aval
dele. Olhava pra ele, e via-o contando a
rima nos dedos, nisso exclamou: “- É, tá bom, não vou mexer em nada, mas vá
burilando, o verso é como um jogo de xadrez. Você vai trocando as palavras até
encontrar a melhor rima e oração do verso. Ao término, deixe guardado. Não pode
apresentar a ninguém. Vivemos num regime fechado, eles me conhecem e isso pode,
de certa forma, comprometer seu pai”. Assim nasceu estas quadras simples, que
lhes apresento, graças ao cuidado de meu irmão, poeta Uirapuan Vieira(Cariri do
cordel), que achara na casa velha, num baú, o caderno com rabiscos de poesias,
já deteriorado pelo cupim. Eis os versos:
só escreve pensamento
pra depois ser publicado.
A igreja está sem padre,
sem fiel e sacristão;
o exército tomou conta,
instalou sua guarnição.
sem fiel e sacristão;
o exército tomou conta,
instalou sua guarnição.
O
exército está na rua,
o
povo ficou calado; só escreve pensamento
pra depois ser publicado.
Teresina, 1964
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