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terça-feira, 23 de abril de 2013

Guipuan Vieira - A crônica que publicamos é de Raimundo Rosa, poeta, escritor e ícone do jornalismo piauiense.  A foto é da rua Paissandu, que fora o núcleo dos tradicionais boates, como “Estrela”, “Fascinação”, “Imperatriz”, “Nove Horas”, “Gerusa”, “Raimundinha”, “Joana de Paiva”, entre outros. A   crônica descreve a vida de gerações que mesmo à margem da sociedade escreveu sua história.

PAISSANDU
 
Aqui, onde existe este colégio,
Já foi um local de privilégio,
onde funcionou a Fascinação.
Privilégio de uns poucos
que se excitavam nos clubes sociais,
e quando as orquestras não tocavam mais
desciam para o meretrício,
buscando no sexo sua satisfação.
Aqui, nesta loja onde se vendem bicicletas,
funcionavam três casas de cômodos,
repletas de mulheres,
em sua maioria vindas do Maranhão.
Pelo lado daquela outra rua, logo ali,
era o cabaré de seu Coelho, o Amambaí,
com música ao vivo e muita animação.
Olhando-se em frente, um quarteirão inteiro,
ainda se observam vestígios do "puteiro",
onde pobres meretrizes viviam humilhantemente.
Naquela esquina, mais adiante,
no cruzamento da Paissandu,
funcionou uma casa elegante,
com mulheres de porte fascinante,
onde o atrativo era o seminu.
À esquerda da Paissandu , descendo,
de onde se avista a água do rio, correndo,
funcionava um grande restaurante.
Mais em baixo, o bar do Godofredo,
onde gigolôs e prostitutas
confessavam seus segredos,
compartilhados por músicos
que as noites animavam.
Mais em baixo, à direita,
havia o restaurante da Maior Maria,
que reanimava, com seu caldo quente,
os que vinham cansados da boemia.
Por aquele bar passava muita gente,
vinda de um cabaré que havia mais na frente,
o famoso "Estrela", com sua orquestra.
Coisas assim a gente não esquece,
como os encontros de músicos no VTS.
Havia outros pontos,
os quartos de aluguel de Antônio Leiteiro,
que disputavam preços com os do Quitandinha,
além do cabaré de Mariazinha,
um dos mais freqüentados pela juventude.
Descrevi até aqui somente o que pude,
para ser compreendido na minha atitude
de narrar o passado de um meretrício.
Não sei se estou fazendo o mal com isso.
Só sei que a prostituição é chaga social
que nos dias atuais vive mais oculta.
Mulheres entram e saem dos motéis
e não se consideram putas.
Menores são prostituídas
dentro de carros com vidros "fumê",
onde tudo se passa e nada se vê,
diferentemente dos cabarés,
onde tudo era transparente.
Não sei como será o mundo daqui pra frente,
se mais puro ou cheio de pecados.
E como hoje é dia de finados,
não posse esquecer aquelas velas.
Gostaria de saber o que representa cada uma delas,
mas, infelizmente, a memória não me acode.
Parece que bem ali mataram Abinadábio,
numa briga por causa de mulheres.
Naquele alto me veio a recordação!
Foi onde morreu o comissário Basilão,
amante eterno de uma prostituta.
No mais tudo é leve lembrança.
Ainda vejo andando na cidade,
pessoas com cicatrizes da Paissandu.
Rostos marcados por cortes de gilete,
em mulheres que brigavam com ciúmes de homens casados.
Em alguns casos, corpos mutilados
por queimaduras de chamas premeditadas.
Na Paissandu houve época em que as mulheres,
não suportando o drama da vida que levavam,
vestiam todas as roupas que possuíam e,
e em labaredas, se suicidavam.

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